No interior de uma prisão em Pernambuco, Lisbela entra vestida de noiva para encontrar com o prisioneiro Leléu. Entre desentendimentos, planos e contraplanos, Lisbela escuta as mais belas declarações de amor. No entanto, como em todo bom filme romântico, os protagonistas precisam se separar antes do fim. Lisbela se despede do prisioneiro para se casar com outro ao som de Caetano Veloso aos plenos pulmões cantando um dos refrões mais emblemáticos de uma trilha sonora brasileira, “E agora? O que faço eu da vida sem você?”.
Prestes a completar 20 anos, Lisbela e o Prisioneiro, dirigido por Guel Arraes, sobreviveu ao teste do tempo. Além de seu claro impacto cultural, é possível defender esse statement através da demanda. Em um mercado em que as ofertas de conteúdo são mais diversas do que há duas décadas, mas com o dia permanecendo com as mesmas 24 horas, capturar a atenção da audiência é árdua tarefa para qualquer produtor ou distribuidor de conteúdo.
É nessa economia de atenção que a demanda surge como métrica poderosa para quantificar o sucesso de um título, portfólio ou talento. Ao ir além das métricas tradicionais, a demanda engloba o consumo de buscas online, redes sociais, consumo em sites de vídeos e em plataformas open-streaming. Através dessa metodologia, é possível mapear toda a jornada de descoberta de conteúdo, identificando tendências globais e locais.
Considerando apenas os filmes românticos lançados entre 1989 e 2005, um dos períodos auge do gênero, Lisbela e o Prisioneiro é o único título brasileiro entre os mais demandados no Brasil no primeiro trimestre deste ano. Apesar da janela de quase 20 anos, o filme registrou demanda 2,5 vezes maior do que a demanda média de todos os títulos mapeados. Além disso, é interessante observar a pluralidade das produções no Top 10: há romances juvenis que viraram clássicos em canais lineares, romances de época, filmes independentes e até mesmo dois títulos do diretor chinês Wong Kar-wai, Amores Expressos e Anjos Caídos, que encontraram audiência sólida no mercado brasileiro ávida por entretenimento asiático.
COMÉDIAS ROMÂNTICAS
Após perder espaço na indústria cinematográfica no início dos anos 2010, quando os filmes de super-heróis reinaram de maneira absoluta, a comédia romântica vem encontrando maneiras de permanecer relevante ao se sustentar em importante pilar: o streaming.
Antes de assegurar acordo de US$ 400 milhões com Rian Johnson para duas sequências de Knives Out e desembolsar valor generoso para as estrelas de Alerta Vermelho, a Netflix entendeu a comédia romântica, em especial aquelas protagonizadas por adolescentes, como potencial de franquia.
Até o momento, A Barraca do Beijo e Para Todos os Garotos Que Já Amei são as únicas franquias originais da plataforma com três filmes lançados, excluindo os títulos natalinos, que também podem ser considerados comédias românticas. Ambas as séries de filmes foram adaptadas de livros e, apesar de adaptações não serem novidade para o gênero, desenvolver franquia a partir de um IP pré-existente, além de campanha de marketing assertiva, pode ser a fórmula vencedora para um filme de sucesso.
Considerando a demanda média dos três títulos de cada franquia durante seus respectivos 30 primeiros dias disponíveis no streaming, A Barraca do Beijo e Para Todos os Garotos Que Já Amei apresentam demanda outstanding no mercado brasileiro, superando em 9 e 10 vezes, respectivamente, a demanda média de todos os títulos. Além disso, ambas as franquias apresentam perfil semelhante em sua composição da audiência, com alta concentração entre o público feminino e a geração Z, que representa quase metade da audiência que engajou com os títulos.
Outro ponto a ser destacado é a fortaleza do gênero nos últimos meses do ano, em especial durante o período natalino, época em que as plataformas de streaming vêm adicionando novos títulos tendo o Natal como pano de fundo. Considerando os digitais originais lançados no último trimestre do ano passado, duas comédias românticas nacionais, Esposa de Aluguel e Um Natal Cheio de Graça alcançaram o Top 10 filmes de maior demanda no País. Ao acrescentar os dramas românticos, esse número cresce para quatro, com o também brasileiro Depois do Universo e o britânico Meu Policial.
Com a HBO Max lançando Procura-se, estrelado por Camila Queiroz e Klebber Toledo no final do ano passado, a Amazon Prime Video preparando o lançamento de Um Ano Inesquecível, a
Netflix produzindo o segundo volume de Ricos de Amor e Perdida pronta para chegar aos cinemas em julho, as comédias românticas nacionais parecem estar ganhando novo fôlego. Parafraseando Lisbela durante os minutos finais de sua conversa com o prisioneiro, o melhor de uma comédia romântica é o jeito que termina. A ver os próximos beijos.
