A relação da audiência com filmes de super-herói não era a mesma dos gloriosos anos pré-pandêmicos quando James Gunn foi anunciado como o novo chefe da DC Studios em 2022. A Marvel havia chegado ao ápice com Vingadores: Ultimato, mas poucos títulos das fases seguintes se aproximaram desse nível de sucesso em bilheteria e crítica. Entre os maiores destaques, reinavam os projetos com forte apelo nostálgico, como Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e Deadpool & Wolverine.
Enquanto isso, a DC passava por um momento turbulento. Mesmo com o prestígio de Coringa em 2019, Leão de Ouro em Veneza e mais de US$1 bilhão global, a pandemia evidenciou problemas internos, de elencos a executivos, e os maiores acertos vinham de filmes fora desse universo compartilhado, como The Batman. Era necessário reorganizar a casa.
É nesse contexto que Superman chega aos cinemas como o ponto de partida de um novo universo para os heróis da DC. Com novo elenco, nova abordagem e o desafio de reposicionar a marca, o filme encontrou um terreno fértil no Brasil. Em apenas duas semanas, superou 3 milhões de ingressos vendidos e se tornou o título com o maior patamar de demanda no país, independente de gênero ou formato, de acordo com os dados da Parrot Analytics, empresa líder global em análise de mídia e entretenimento. A média de demanda do filme durante os seus 15 primeiros dias de lançamento foi de quase 150 vezes a média de todos os títulos mapeados pela Parrot, patamar que menos de 1% das produções conseguem alcançar.
Desenvolvida pela Parrot, a demanda engloba o consumo de buscas online, redes sociais, consumo em sites de vídeos e em plataformas open-streaming. Através dessa metodologia, é possível mapear toda a jornada de descoberta de um conteúdo, quantificando a popularidade de um título na economia de atenção. A composição da audiência global que tem engajado com o filme é masculina, representando cerca de 80%, e mais jovem, com a Geração Z sendo responsável por um terço do total desse grupo.
O Brasil se destaca entre mercados de língua não-inglesa, além de ser o terceiro maior mercado em demanda global, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Essa força foi potencializada pela estratégia promocional, que trouxe David Corenswet, Rachel Brosnahan, intérpretes do Superman e da Lois Lane, além do próprio James Gunn para uma press tour no país, também impulsionando a demanda desses talentos durante a visita.
O lançamento também gerou efeito retroativo. Títulos antigos do herói voltaram a crescer em performance. O Homem de Aço, primeiro filme dirigido por Zack Snyder para a DC, registrou um aumento de demanda de 190% no mercado brasileiro durante o lançamento de Superman. Além disso, a série Smallville, um clássico do início dos anos 2000, cresceu 30% no mesmo período, mostrando como novos conteúdos reativam o catálogo histórico.
Mas o cenário internacional não foi tão uniforme. Apesar da recepção positiva da crítica e do título ser o filme solo de Superman mais lucrativo nos Estados Unidos, o longa não manteve as mesmas conquistas nos mercados internacionais. Gunn chegou a mencionar em entrevistas que esse movimento poderia estar atrelado a uma suposta falta de conhecimento do personagem em mercados fora dos Estados Unidos até a um possível sentimento antiamericano causado pelas políticas internacionais de Donald Trump.
Porém, é válido lembrar que o próprio Gunn conseguiu há 10 anos se aproximar de uma bilheteria global de US$800 milhões com Guardiões da Galáxia, uma equipe que estava longe do alto escalão das HQs do selo Marvel. Assim, o caso de Superman pode ilustrar uma transformação maior. O sucesso de um blockbuster de super-herói hoje já não pode ser medido pelo mesmo termômetro do final da década passada. Filmes que superam US$500 milhões globais ainda dentro dos seus primeiros quinze dias de lançamento, mobilizam catálogos antigos e são capazes de cobrir seus gastos de produção e marketing já podem ser considerados vitórias estratégicas, principalmente aqueles que tem como objetivo a construção de um novo universo.
O caminho conquistado pelo novo Superman até o momento mostra que o gênero ainda é capaz de quebrar recordes, com o público ainda disposto a embarcar em novas aventuras. No entanto, as expectativas devem ser revistas, já que o sucesso de outrora parece se tornar cada vez mais seletivo.
Visit Exibidor to read this article.