O show de Lady Gaga na praia de Copacabana, que atraiu o maior público de uma artista feminina na história (2,1 milhões de pessoas), foi uma demonstração vívida de como construir e capitalizar relevância cultural na era da economia da atenção. Para profissionais de comunicação e marketing, o evento – parte da iniciativa público-privada "Todo Mundo No Rio" – oferece lições valiosas sobre engajamento, construção de marca e estratégias de longo prazo.
Analisando os dados da Parrot Analytics – que mede a atenção do público a conteúdos e artistas por meio de bilhões de dados digitais diários, como interações em redes sociais, buscas online e consumo de conteúdo –, observamos que Gaga não se tornou a artista mais popular do país da noite para o dia. Entre janeiro e maio deste ano, ela teve demanda 211 vezes maior que a média de todos os artistas. O clímax, claro, foi o show em Copacabana, quando sua demanda atingiu 642 vezes a média nacional – 32% superior ao pico alcançado por Madonna em seu show igualmente icônico no ano anterior (487x), que reuniu 1,6 milhão de pessoas.
A diferença central está na jornada. Enquanto o show de Madonna foi anunciado com apenas um mês de antecedência, a ascensão de Lady Gaga foi gradual: apresentação nas Olimpíadas (julho), lançamento de "Die With A Smile" (agosto), clipe de "Disease" e "Joker: Folie à Deux" (outubro), rumores do show (novembro), single “Abracadabra” e anúncio oficial (fevereiro), lançamento do álbum completo (março) e aparições no Saturday Night Live e Coachella (abril). Cada marco foi um degrau, elevando sua popularidade e culminando na apoteose de Copacabana.
O "efeito Copacabana", porém, não se limitou ao Brasil. No dia seguinte ao show, 4 de maio, a demanda mundial pela artista cresceu 21% em relação à média da semana anterior – o quinto maior pico global de sua carreira desde que a Parrot Analytics iniciou sua medição por artistas em 2019. Isso demonstra como um evento local de grande magnitude pode reverberar internacionalmente, amplificando o alcance de um artista.
A análise demográfica de Gaga e Madonna oferece insights sobre segmentação de audiência. Gaga atrai um público mais jovem, com 11,6 pontos percentuais a mais de Geração Z do que Madonna. Já Madonna é mais forte na Geração X e acima (12,8 pontos percentuais a mais que Gaga). Enquanto Madonna tem um público mais distribuído entre gerações, Gaga se destaca entre Gen Z e Zennials. Uma distinção crucial para marcas que buscam conexões com audiências específicas.
Outro destaque é o impacto em afinidade de marca. Utilizando a metodologia de Brand Affinity da Parrot Analytics, analisamos a sobreposição entre o público de Gaga nas redes e o de diversas marcas, 60 dias antes do anúncio e até o evento. Todas as marcas envolvidas no “Todo Mundo No Rio” registraram crescimento na afinidade com o público da artista após o show – mesmo aquelas que já apresentavam uma sinergia prévia.
Fica evidente que megaeventos catalisados por artistas de alta demanda geram um engajamento poderoso. Marcas que se alinham de forma genuína ao contexto desses eventos – mesmo sem patrocínio direto – podem elevar sua relevância e impacto. A chave está em entender o público e encontrar conexões autênticas.
O show de Gaga foi mais do que entretenimento – foi uma aula de estratégia, construção de momentum e conexão emocional. Para anunciantes e agências, a lição é clara: na acirrada disputa pela atenção, compreender profundamente o comportamento da audiência, seu perfil e as afinidades de marca é essencial para transformar momentos culturais em valor tangível para as marcas.
Com tamanho sucesso, já se especula: quem será o próximo nome a comandar o "Todo Mundo no Rio"? Segundo dados do Talent Demand da Parrot Analytics, além de Gaga, artistas como Bruno Mars, Taylor Swift, Beyoncé, Billie Eilish e Rihanna figuram entre os nomes internacionais de maior demanda no país. Resta saber que gigante da música será o próximo a fazer história nas areias de Copacabana e se ele ou ela terá o mesmo impacto na economia da atenção que Gaga teve.
